quarta-feira, setembro 22, 2004

Sociedade: Portugal é do “Best” :)

Sai um comentário com um pires de tremoços?

Cada vez que saio de Portugal, naquela viagem anual que me leva a um qualquer cantinho extraordinário deste Mundo, com o qual tento ampliar os meus horizontes, fico sempre com uma saudade inexplicável, até pelo significado unico da palavra em si, que só podia existir mesmo no nosso léxico.

Mas quando volto, e quanto mais tempo por cá fico, cada vez mais estranho o porquê das minhas saudades. Portugal é o melhor país do mundo para se viver, isso nenhum de nós tem dúvidas, mas há que saber preencher alguns requisitos, como o sejam:

1- Nunca ter problemas legais que tenham que ser resolvidos em tribunais; caso alguma vez nos zanguemos com o vizinho, com o pintor ou com a nossa mulher, tentar resolver sempre tudo na base da conversa, do entendimento, ou em ultimo caso, ao estalo, porque se precisarmos de recorrer aos tribunais, meus Deus, acabámos de arranjar o 31 da nossa vida.
3 anos depois, o problema fica resolvido, com sorte, e conseguimos perder o dobro do dinheiro que estávamos a tentar reaver.
A Justiça Portuguesa é boa, sem dúvidas, desde que não precisemos dela.

2- Ser saudável e não ter que recorrer a hospitais ou médicos; e acima de tudo, ignorar, ou fazer por ignorar, que o médico de família que deveríamos ter, não existe ou nunca aparece no Centro de Saude.
Se possível, ser funcionário do Estado para ter acordos com quase todas as clinicas e médicos privados, para evitar de ir ao Serviço Público de Saude.
A saude funciona bem, desde que tenhamos paciência, com o tempo que se espera, e com os erros de diagnóstico, e com a falta de paciência e profissionalismo deles.
É óbvio que nem todo podemos esperar 6 meses por uma consulta, mas mais doente, menos doente, que interessa?

3- Gostar de admirar estádios com arquitecturas neo-pós-modernó-impressionistas (ou seja, campos de bola com bancadas sempre vazias) novinhos em folha, ou em fase de remodelação.
Ninguém vai à bola, e não há mais espectáculos para ir em estádios, mas quem não gosta de ir ao Estrangeiro e dizer: “nós construimos 10 estádios novos, somos demais, e vocês? Museus? Quem precisa disso?” O que é giro é que em Portugal quase ninguém pratica desporto, também, isto é quase um caso de estudo.

4- Divertir-se com a corrupção no futebol e nas autarquias; nos Concursos públicos, na colocação dos professores, nas escolhas de pessoas para cargos públicos, na escolha de empreiteiros, nas luvas a funcionários publicos para contorno de burocracias, nas luvas aos agentes de autoridade, nos subornos aos fiscais para não “passarem” em certos sitios, na idiotice de ter prostituição proibida e ver as putas na rua, na ambiguidade de proibir as drogas e permitir o consumo, na estupidez de proibir os abortos e ver as filhas dos ricos irem abortar a Espanha e à Holanda e de ver as clinicas de abortos funcionarem como clinicas de ginecologia.
Porugal é tão engraçada, que mais que república das bananas, deveria ser considerado o País dos palhaços.

Palhaçolândia, quem se ri é o Chen!!



5- Achar que os ricos e poderosos devem estar imunes às leis; afinal, em todos os circos com palhaços, tem sempre de haver alguém que mande, estilo um apresentador, ou um domador de leões, ou ainda os trapezistas.
Vamos esquecer o excesso de velocidade para os políticos, de certeza que a vida deles é bem mais ocupada que a nossa, meros e comuns cidadãos palhaços; vamos encorajar a imunidade parlamentar e diplomática e confirmar que basta ser politico para se ser santo: Político não comete pecados, quanto mais come meninos pequeninos, consome drogas pesadas, aluga prostitutas ou tem elevadas dívidas de jogo.
Ricos ainda menos, esses nem sequer têm vícios, pelo menos conhecidos, que a PJ e o SIS encarregam-se que ninguém saiba disso...

6- Considerar a cultura um bem de segunda; a cultura em Portugal passa pelos espectáculos do Toy no meio dos jogos de futebol às moscas, nos cartazes espectaculares de incentivo aos não fumadores, que existem nos Metros, nos Hospitais e em Clínicas e noutros locais fechados, mas que nenhum Português palhaço fumador cumpre.
Cultura é comprar o Publico pelos cartoons do Calvin e é assistir à SIC Radical para confirmar o fim dos nossos valores, gozados e enxovalhados para uma juventude irracional, que nem percebe o que lhe tentam impingir, tão ocupado está na sua vida de charros, baldas e curtes.
Cultura em Portugal é ter espirito de sacríficio, estômago pouco exigente e modo de vida “á la Monge”.
É ser reconhecido como realizador com 90 anos, como escritor quando se recebe o Nobel, e como apresentador de TV quando se morre, ou em alternativa, quando se é acusado de pedofilia.

7- Valorizar a incompetência e a cunha como forma de promoção profissional; Vide ponto 4, que já explica tudo sobre isso.
Em Portugal, os palhaços funcionários públicos, por muito competentes, incompetentes, ou mesmo, arrisco-me a dizer, estúpidos que possam ser, sobem sempre da mesma forma, e são promovidos e avaliados? (será esta a palavra correcta?) pela ANTIGUIDADE!
“E pouco barulho, senão há prolemas, querem-me ver, este carapau de corrida, ainda agora entrou a efectivo, já está a levantar ondas, a dizer que trabalha muito, querem-me lá ver isto, já não há respeito!”

8- Encarar a formação profissional e a educação exemplar, que serve para alguma coisa na vida como coisas que só acontecem e aconteceram aos outros; as escolas, os politécnicos e as universidades falham num ponto unico, que é na essência, o ponto fulcral: não preparam as pessoas para a vida, quer seja Socialmente, quer seja Profissionalmente, quer seja simplesmente pelo facto de ensinar às pessoas o minímo de conhecimentos básicos.
Em Portugal, é normal ver os palhaços licenciados darem pontapés no novo Português para palhaços (como aliás deverá estar patente em algumas partes deste texto), é normal ver as contas sairem erradas, os programas não funcionarem, as pessoas aprenderem tudo, tudo de novo, apesar dos seus 17 ou 18 anos de escola, quando vão finalmente trabalhar.
E quanto a analisar o ensino, desde a pré-primária, esquecendo as creches (só para quem tem cunhas); que só funciona 8 meses por ano (fecham 3 meses no verão, 15 dias no Natal e 15 dias na Páscoa), a primária, os Ensinos básicos 2 e 3, o ensino Secundário, que deveria ser profissionalizante (que palavrão é este?), a Universidade, que permite que apesar de haverem 100.000 licenciados de letras e artes desempregados, continua a ter 50.000 vagas por ano para literaturas, linguas, artes, sociologias e psicologias, etc, para mandar mais pessoas para o desemprego ou para o emprego precário, sustentados por um curso universitário que não serviu para nada.

9- Encontrar o encanto na falta de planeamento urbanístico, à falta de cultura de jeito, sequer de identidade Nacional, podemos, quando encontrarmos um turista estrangeiro a queixar-se de uma rua sem saida, dizer que é o nosso tradicional aproveitamento do espaço, numa forma cultural: Porquê fazer prédios de 2 andares quando podem ter 22, porquê multar alguém que faz isso, quando o construtor paga tanto ao fiscal como ao sub-empreiteiro, porquê colocar material de qualidade, quando se conseguem reduzir os custos em 1 terço, anunciando depois material de qualidade que inflaciona tudo em 1 meio para a venda? Afinal de contas, quase ninguém consegue distinguir entre soalho e pré-feito. Para quê planejar avenidas, se o que interessa é passar pelo menos um carro? Para quê material de segurança, se existem bombeiros? Para quê planear se se pode improvisar e desenrascar?

10- Sustentar opiniões fortes e não ter medo de as apresentar de forma frontal e violenta... num blog anónimo na net. Que alternativas nos sobram? Estou aberto a sugestões. Quero agir, quero mudar, quero fazer mudar. Como, alguém me pode dizer como? Pelo menos sem muito derramamento de sangue? Bombas não sei fazer, armas não tenho, manifestações já ninguém liga. Sou apenas mais um palhaço mal-dizente, como tu, como você, caro leitor palhaço...

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