É tão bom ser homem.
Agora que já acabei a dieta (perdi 7 kilitos, muita bom, já só peso 121), posso voltar a fazer aqueles snacks maravilhosos a meio da tarde.
Apesar de não serem muito saudáveis, contribuem para deixar o estômago em rotação, o que convenhamos, é sempre bastante importante (já vos disse que a francesinha que fiz na sexta-feira, ficou pela metade? Perdi o apetite de alarve).
Ora, como estava com o estômago às voltas, o almoço hoje foi só uma sopita à pressa, pedi, depois das tradicionais três vénias, e do beija mão também corriqueiro, senhora dona directora, como está tudo bem, e os filhotes?
Casaram-se há já 5 anos e não sabe nada deles?
São uns irresponsáveis?
O que é que eu tenho que ver com isso?
Peço desculpas, não era minha intenção, sim, senhora dona directora (mais duas vénias), sim, vou directo ao assunto, é que queria ir buscar qualquer coisita para comer, sim senhora dona directora, entrei dois minutos atrasado, sim, peço desculpas, vou lá agora, sim, senhora dona...
E ao fim de quatro vénias mais, lá consegui ir até ao cubículo onde a empresa diz que tem café de borla para os empregado (deviam chamar óleo de laxante àquilo, por um lado sabe a óleo, pelo outro, dinamiza a actividade intestinal).
Conforme vou enchendo a garrafa de água, não posso deixar de ouvir a conversa de 2 meninas, novas na empresa, por sinal, mas aparentemente já casadas, em que uma pergunta: “então o teu fim de semana? Foi bom?”
“Mais ou menos, sabes, limpei a casa toda no sábado de manhã, depois entretive-me durante a tarde a lavar as janelas, e não é que ao fim da tarde, choveu? Tive que no domingo de manhã lavar tudo outra vez”
“Mas ó Maria, hoje choveu outra vez de manhã”
“Pois foi, olha, já tenho que fazer para o fim de semana que vem.”
“Então e o teu marido não te ajudou?”
“Quem, aquele desgraçado? Só me aparece em casa para comer e dormir, e ainda assim a más horas, ai se eu pudesse... e o teu fim de semana, como foi?”
“Mais ou menos, também limpei a casa toda, depois à tarde no Sábado tivemos uns amigos a jantar lá em casa, depois limpei tudo outra vez no Domingo, e no Domingo à noite o meu menino teve lá uns colegas a verem o Benfica na televisão, e estive depois outra vez até às 3 da manhã a limpar outra vez tudo. Custou-me mesmo foi a tirar os bocados de chouriço assado que eles puseram no tecto”
“Como é que o chouriço foi parar ao tecto?”
“Quando o Benfica marcou o segundo golo, estavam eles a petiscar, levantaram-se aos berros, atiraram os braços ao ar e lá ficou o chouriço pregado”.
“E o teu homem, não te ajudou?”.
“O meu é igual ao teu, depois do jogo foram comemorar com um petisco não sei onde, parece que não gostaram do chouriço que fizeram lá em casa, disseram que já tinham visto coisas com super cola três não se colarem tanto como o chouriço. Chegou acho que eram umas 5 da manhã”.
“isso é que foi petisco, os homens são todos iguais”
E finalmente a garrafa de litro e meio encheu-se.
Estava farto de ouvir as queixas daquelas mulheres.
Entrei então no compartimento da máquina de café, onde está também a máquina das sandes, dos bolos, dos chocolates e dos iogurtes, tudo a preços acessíveis, mais ou menos ao dobro do que custam no hipermercado.
Estavam lá dois colegas, também a falarem sobre o fim de semana, e primeiro que eu escolhesse a sandes que queria, também pude ouvir algumas coisitas:
“Então, meu, o teu weekend, foi nice?”
“foi mesmo baril, na sexta-feira conheci uma morena, bem, vou-ta contar, levou-me para casa dela, aquilo foi a abrir...cheguei a casa eram 4 da manhã”.
“E a tua mulher, como foi? Não disse nada?”
Ela? Disse, disse para eu a ajudar a limpar a casa, e que era um irresponsável, e que não a ajudava, e que tenho de deixar de atirar as cuecas pó chão, e que estava sempre sozinha à noite”.
“E tu ficaste-te?”
“Quem, eu ficar-me? Eu nem era para ir ter com a Morenita, mas já que ela me lixou tanto o juizo, liguei para a minha mãe, para lhe ir fazer a vontade, pedi-lhe para lhe fazer companhia, e fui curtir então o Domingo com a gaja, a fazer quilómetros, não sei se tás a perceber, pós lados da serra de Sintra.”
E saí dali, com a garrafa cheia e com a sandes de presunto na mão, a pensar com os meus botões, ainda bem que sou gaijo...
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