quinta-feira, julho 22, 2004

Livros: “O Rapaz Persa”, de Mary Renault

Sai um comentário com um pires de tremoços?

Excelente, 5 estrelas.
Sou duvidoso para classificar este tipo de romances, históricos, uma vez que são dos que mais gosto ler, mas também dessa forma tenho lido muita porcaria e posso dizer-vos, meus caros amigos, que este livro transpira qualidade de escrita e amarra-nos do princípio ao fim, estasiante.
 
Ao contrário da maioria dos autores actuais, este livro não vem com 150 páginas, em fonte 15 com espaçamento duplo entre as  linhas e parágrafos a cada frase. Sendo uma grande excepção à regra, vem com mais de 500 páginas, numa para mim incómoda fonte 8?, muito apertadinha, que me cansa a vista por vezes, mas que me cansa a vista de prazer pelo que vou lendo.
 
Como muitas obras que tenho tido o gosto de ler, prende o leitor logo desde o início, com uma entrada imediata na acção, que faz no entanto prever uma descrição vaga e sucinta da história, com poucos detalhes e muita confusão, mas não é nada disso que acontece.
 
Cada personagem à sua vez, e numa forma muito subtil vai sendo caracterizada ao ponto de parecer algum tempo depois de iniciada a leitura, que os conhecemos como nossos amigos intímos desde quase sempre.
 
Enredada num contexto histórico absolutamente fascinante, explorando como nunca vi até hoje alguém explorar tão brilhantemente o carácter ficcionado das personagens, numa dedução lógica do que foram os relatos da sua vida, Mary Renault deixa-nos apaixonados pela relação de Alexandre com o Rapaz Persa, Bagoas, e depois destroça-nos com a morte do mesmo, depois de tanto ter conquistado, e depois de se ter apercebido que tanto lhe faltava ainda.
 
Imperdível, no meu entender, para quem gosta de histórias bem estruturadas e bem contadas.
 
Quando me “impingiram” o livro, pensei com os meus botões, mais uma história de Alexandre Magno, sem pés nem cabeça, por uma escritora de romances de cordel, mas o que vim a descobrir foi uma pérola numa concha, escrita por uma escritora especializada em pesquisa histórica, e conhecedora de todos os grandes clássicos, mas ao mesmo tempo, inovadora e moderna ao ponto de nos anos 60 não ter tido pejo em escrever este romance que explora e demonstra que, apesar de injustificáveis, desde sempre existiram a mutilação, a pedofilia, a bigamia e a homosexualidade.
 
Imperdível.  



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