segunda-feira, novembro 15, 2004

Filhos: A hora da pica.

Sai um comentário com um pires de tremoços?

Na sala de espera, ainda sem idéia do que o espera, a brincadeira vai decorrendo sem grandes problemas, todos os os meninos e meninas correm, e gritam e batem nas cadeiras, imitando tambores.

A alegria de se ter dois anos é recíproca à alegria que enche os corações dos Pais e das pessoas que passam, e que por momentos param para ver aquela gente em miniatura a brincar, alheias na sua inocência dos problemas que os adultos inventam ter, para preencher as suas vidas monótonas, em que dão demasiada importância a coisas sem interesse.

Por estranho que pareça, tenho aprendido mais com o meu filho, do que ele comigo, porque para ele tudo é natural, e ele a mim tem-me ensinado das coisas mais importantes, como o amor desinteressado, o carinho sem limites, o poder do sorriso, ou dum pedido de desculpas, ou de um mero olhar terno...

Chamaram por nós, e lá entrámos, um pouco arrastado pelo chão, qual doutora, qual quê, não quero saber de nada, deixem-me continuar a brincar com os meninos.

Já dentro do gabinete, a curiosidade natural de quem se parece lembrar já ter estado ali antes, mas não se recordando exactamente a fazer o quê.

Felizmente, as más recordações parecem ficar esbatidas num passado que nunca recordamos, e essa sensação de “Dejá-Vu”, que de certeza ele sentiu, uma vez que ainda há 6 meses teve esta nesma tortura, felizmente não lhe veio à memória.

Em vez disso, toda a sua energia se focalizou em tentar apanhar as borboletas penduradas nas paredes.

Ora vamos lá, deita na marquesa, baixa um pouquinho as calças, segure bem nele, e cá está, a seringa entra, injecta, e sai logo de seguida.

As reacções dele são inicialmente de espanto, depois um pequeno esgar de dor, o choro, quando a agulha já estava a sair, e um olhar de traição acompanhado de um “Pai mau”, quando lhe dizemos que já passou tudo.

Felizmente o choro dura pouco, e apesar de ainda se queixar de que: “dói muito, Pai”, enquanto esfrega a perna, rapidamente a experiência da enfermeira lhe devolve o bom-humor, com a oferta da caixinha da vacina.

E assim acabou em bem mais uma epopeia clássica de ida à doutora. Daqui a 15 dias, haverá mais com a picada da vacina que o pai se esqueceu no frigorifico, que teve de comprar porque agora nem as vacinas das crianças o Estado fornece.

A hora da pica felizmente passa sempre rápido, coitadinhos, é para o bem deles (já pareço aqueles velhos lamechas de bengala, a comentarem os netos)...

Ai o meu braço!


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